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Elenco:

Alice Nascimento

Adriano Araújo

Kleber de Aquino

Carlos Alberto Moreno

Encenação: Fabiano Benigno

Figurino: Clau Carmo

Preparação Vocal, Arranjos e Música em Cena: Leticia Goes

Iluminação: Charly Ho
Direção e Cenário: Fabiano Benigno
Foto e Vídeo: Bruno Lemos

Aqui Dentro

Personagem: Isaura

 

Sinopse: Um pescador solitário, uma mulher que quer reescrever sua vida, um pequeno órfão abandonado à própria sorte e um homem que não se encaixa na sociedade formam uma família e iniciam uma jornada de afeto num mundo todo feito contra eles. Amor e esperança em tempos sombrios. Espetáculo livremente inspirado na obra de Valter Hugo Mãe.

Meu texto de programa: 

Adaptar é construir mais pontos de vista. Reescrever. Recriar. O convite para fazer teatro inspirado em “O filho de mil homens” se deu da maneira mais incomum nessa irmandade que construí com o Carlos. Desta vez, estávamos divididos pelos mares. Mar é emoção. Dentro da emoção da distância, da necessidade de ver a felicidade, de estar junto novamente e também da fidelidade à história que construímos (sim, sou muito companheira). Disse sim ao convite.
Mas, embora estivéssemos embebidos desses mares dentro e fora da gente, não estava inconsciente. Foi um sim cheio de pormenores, acordos… Alguns que se cumpriram e outros que não. E se saio com alguma certeza desse processo todo, é a de que a imagem que construo dos trabalhos que faço é sempre maior do que o que eles podem ser e por isso tem bastante crise interna durante. Porque busco a perfeição que criei pra mim. Também não nego o fato de que muitas vezes não conseguimos enxergar de dentro nem 60% e portanto tudo pode ser bem maior do que o que se vê. Mas isso escrevi depois. O “lance” é a crise mesmo.
A personagem Isaura, no livro, trata-se de um ponto de vista de um homem sobre as mazelas que assolam as mulheres em diversas situações. É um retrato cruel. Difícil de encarar. Difícil pra mim, uma mulher que caiu pra dentro de si mesma, mas não permaneceu lá a definhar. Renasci.
Percebi primeiro em mim que era preciso escrever. Que se eu não escrevesse, ninguém ia escrever a minha experiência de ser mulher num mundo que odeia mulheres. Então, escrevi.
A reescrita da Isaura na peça “Aqui dentro” não é minha. A Isaura da peça não é a do autor do livro, por outro lado não é somente do dramaturgo da peça. As palavras são dele, do Carlos. Nascidas de erupções cutâneas provocadas pela minha loucura.
Tive de entender esse lugar. E hoje sou eternamente grata. Quando um trabalho é idealizado por alguém, ele é um sonho. Se outro alguém o lança pra outro lugar torna-se um pesadelo. Percebi isso conversando com mulheres. E decidi ser sonho. Inteira naquilo que contribuí, que faz sentido pra mim e que me completa. Brilhando nos limites dos passos porque a magia do teatro é da atriz (ator) e do público no fim das contas.
Portanto, sou grata. Por toda a reflexão, toda a crise, todo choro. Esse trabalho não é fim, é um meio. São as sementes do que vamos colher depois.

Alice Nascimento

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