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Laboratório de atrizes servem para além da preparação de personagens

  • Foto do escritor: Alice Nascimento
    Alice Nascimento
  • 5 de mai. de 2020
  • 4 min de leitura

Atualizado: 27 de mai. de 2020

O que mais se encontra em relação ao tema na internet?


É possível encontrar vários textos na internet sobre laboratório de atores[1] e eles em sua maioria se referem a mesma situação, em que atrizes e atores colocam-se em uma situação inusitada para aprender comportamentos específicos, a fim de criar uma personagem. Por exemplo, quando Wagner Moura se mudou para Medellín, onde morou durante três meses para aprender todo o comportamento gestual necessário para fazer a personagem histórica Pablo Escobar.

Porém, nem todos os laboratórios de atrizes e atores são assim. Há também os laboratórios de atuação, que são derivados dos laboratórios teatrais.


O que é um laboratório Teatral? Espaço de formação para a atrizes.


Laboratórios Teatrais são núcleos de trabalho sobre a atuação que mantém como principal característica a investigação prática desvinculada da produção do espetáculo. Um espaço de vivência para o ator e a atriz encontrarem respostas ou novas perguntas para suas necessidades técnicas, teóricas, culturais, relacionais etc. Em suma, todas as necessidades que nutrem seu ofício.


Para ficar mais fácil entender, pense em um músico violinista. Para ser violinista, a rotina deste aspirante deve ser composta de aulas sobre o instrumento, apresentações em orquestras ou solos e muito, muito tempo de estudo. É no horário de estudo que o músico erra e aprende com seus erros. Um laboratório é um lugar de experimentação e liberdade para o erro, assim como o momento de estudo das pessoas que estudam música.


Na formação de atrizes e atores, pouco se fala deste espaço para treinar as habilidades necessárias para ter excelência no instrumento (que, neste caso, podemos pensar que é o seu próprio corpo, sua expressividade e a capacidade de comunicar).

Vale lembrar que o termo “laboratório teatral” nasceu no continente Europeu e quando foi adotado pelos países da América Latina foi usado para definir práticas de características distintas entre si. Então, não existe um consenso ou uma definição única para esse tipo de fazer.



Onde os laboratórios de atuação se desenvolveram no Brasil?


No Brasil, as práticas laboratoriais se desenvolveram nas experiências de teatro de grupo, nas escolas de teatro e nas universidades. Espaços de educação e criação coletiva. Se a sua busca está relacionada a participar de um laboratório, comece por saber quais universidades e espaços próximos à sua cidade possuem cursos de artes cênicas. Eles podem ser a porta de entrada.


Mas atenção curso é uma coisa, laboratório é outra!


As escolas são fundamentais na formação de atrizes, porém é necessária uma autogestão de aprendizado, de desenvolvimento de habilidades que só a pessoa é capaz de saber se precisa ou não. Passar por diferentes escolas sem parar para estabelecer espaços laboratoriais independentes de produções de espetáculos, pode gerar um efeito rebote. Um verdadeiro criadouro de “atores caça-cursos”, termo que aprendi com a Estela Albani[2]. Ou seja, atrizes e atores que sentem um anseio por estar sempre participando de cursos, ainda que muitas vezes eles não representem uma evolução significativa em suas práticas.


Minha experiência em um laboratório de atuação universitário – breve relato


De 2013 a 2016 participei de um laboratório universitário chamado LAPCA – Laboratório de Processos de Criação Atorais – que ficava na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). O LAPCA é um dos braços dos projetos de pesquisa da Profª Drª Lúcia Romano. Participei do projeto durante três anos e escrevi o meu trabalho de conclusão de curso (TCC) de graduação em Arte-Teatro sobre essa experiência.


No TCC, listei outros laboratórios universitários existentes no Brasil, claro que com uma limitação grande, pois se tratava de um trabalho para concluir o curso. Porém, a parte de análise bibliográfica sobre o aspecto pedagógico das práticas laboratoriais e a historiografia dos laboratórios ficou muito bacana. Nesses textos eu defendo o ponto de vista de que os espaços laboratoriais são necessários às atrizes para desenvolver autonomia nos processos de autoformação. Autonomia sobre o que será estudado e porque será.


No LAPCA, aprendi a me olhar em cena; a questionar tudo o que construo buscando sempre o melhor do já feito; a usar as mãos; a tentar desenhar, forçar outros modos de registro que não a palavra; dizer com as várias partes do corpo; não me alienar do meu próprio processo criativo. Aprendi a importância da troca de saberes.

Desde que saí do LAPCA, os aprendizados permanecem em mim como um convite a decisão sobre que atriz sou e que atriz quero ser. Este é o primeiro texto de uma série de textos que pretendo compartilhar sobre as realizações e obstáculos que esta profissão de artista da cena nos impõe.


Gostaria de saber mais sobre laboratórios teatrais e laboratórios universitários? Escreva para mim aqui.

Palavras chaves: laboratório de ator, laboratório teatral, laboratório universitário, atriz, personagem.


Notas:

Fotos de Gabriel Gonçalves. O @gab_ees

[1] Por convenção da língua portuguesa as pessoas se referem a atores e atrizes pelo substantivo masculino. Nesse blog faço o caminho inverso para começar a gerar mais visibilidade para processos e teorias específicas realizadas e experimentadas por nós mulheres, portanto atrizes. [2] Produtora de conteúdo de qualidade sobre a composição de uma carreira de atuação e suas relações com o mercado de trabalho. Para saber mais sobre o trabalho de Estela, acesse: https://www.youtube.com/channel/UCV963pYpON4LZgnFdCDhbeg

 
 
 

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