Também as atrizes têm um ofício

“Também as atrizes têm um ofício” é uma frase que li em um livro da Julia Varley[1], atriz inglesa integrante do Odin Teatret. Além de achar a frase muito poética, considerei uma boa reflexão para atrizes e aspirantes. Pois pergunto, qual é o ofício da atriz?

O trabalho das atrizes não se limita a fama

A internet passou a ser o maior referencial de pesquisa das gerações atuais, porém ela cria bolhas. Verdadeiras ilhas de verdades ou meias-verdades sobre determinados assuntos. Quando se busca na internet pelo verbete atriz, por exemplo, o que se vê são uma série de curiosidades sobre atrizes que possuem suas carreiras ancoradas na televisão, na publicidade, em Hollywood etc. O que gera a sensação ilusória de que o trabalho da atriz se limita a essa experiência de fama.

Porém a fama, o “estrelato” tem bem pouco a ver com o trabalho de atriz. Há boas atrizes que ficam famosas, mas há também quem nem seja atriz e fique famosa. Em outras palavras não precisa ser atriz para ser famosa e nem ser famosa para ser atriz.

A frase que pesquei no livro e que é título desse artigo foi, na verdade, os dizeres de um açougueiro que após ver uma demonstração de trabalho de Julia Varley percebeu que também as atrizes possuem um ofício. Ou seja, que toda a magia teatral que ele havia presenciado não era fruto de apenas inspiração ou talento. Havia também muito suor de trabalho.

O que é ofício?

Ofício significa qualquer atividade de trabalho que requer técnica e habilidades específicas, segundo definição do google.

Façamos uma reflexão sobre as palavras técnica e habilidade. Técnica é um determinado modo de fazer, um conjunto de procedimentos. Já habilidade é uma capacidade de realização de algo. Tocar um instrumento, por exemplo, é uma habilidade que se desenvolve através de muito treino.

Tendo isso, sabemos que para ser uma boa atriz é preciso muito estudo para o desenvolvimento de técnicas e habilidades diversas.

E essas técnicas e habilidades não são gerais. Cada trabalho, cada estética necessitam de técnicas distintas. A personagem, por exemplo, apesar de perpassar todo o trabalho da atriz, possuí diferentes entendimentos, pois no cinema ela significa uma coisa, na televisão outra, na publicidade outra e no teatro muitas outras. Há vários tipos de personagens teatrais.

Mas então qual a escola ideal para aprender esse ofício?

A escola ideal é aquela que oferece ferramentas para que você fique mais próxima da atriz que você quer ser. Do lugar de trabalho que você sonha.

Mas, atenção! Só escolas e cursos não bastam. É necessário ser artista, pensar como artista. Ter projetos próprios. Ter momentos de autoconhecimento e autoformação. Colocar os ensinamentos em prática.

Em resumo, a escola ideal é você mesma fazendo a curadoria do que é importante e fundamental para você. Há atrizes que querem fazer teatro musical. Para essas atrizes, escolas que contenham boas aulas de dança e canto serão fundamentais, além de elas precisarem separar tempo para estudar/treinar fora do horário que elas dedicam para participar de aulas e ensaios com grupos.

No artigo que escrevi sobre laboratórios de atuação, falo sobre esse lugar a parte dos ensaios e das aulas. O laboratório é um espaço para treino, autoconhecimento e autoformação das atrizes.

Por fim, concluo dizendo que os espaços de atuação para atrizes são diversos se você já é atriz sabe bem disso. Mas, se deseja ser, esse texto pode ter ampliado um pouco a percepção sobre as distâncias que existem entre o que se diz sobre o ofício e o que ele de fato pode representar.

Gostaria de saber mais sobre algum assunto ou fazer uma pergunta? Escreva para mim aqui. Você também pode deixar seus comentários. Abraços, até a próxima!

Notas:

[1] Referência: VARLEY, Julia. Uma atriz e suas personagens: histórias submersas do Odin Teatret. São Paulo: É realizações, 2016.

Fotos de registro do LAPCA - Laboratório de Processos de Criação Atoral - UNESP