Leitura de escritoras negras pelas atrizes

Em junho de 2020, criei o projeto Ressoar Vozes Negras, que consiste em fazer leituras de autoras negras em formato de live no Instagram. Cada live um episódio diferente com um tema norteador para que as pessoas interessadas reflitam um pouco sobre si mesmas, conheçam as autoras e encontrem inspirações para suas próprias criações.

Neste texto, revelarei um pouco dos bastidores desse processo de criação.

Por que deste nome?

No ano de 2019, participei do Núcleo de Dramaturgia da Escola Livre de Teatro de Santo André sob orientação da dramaturga e atriz Dione Carlos. Neste processo incrível de escrita, identidade e difusão do pensamento de pessoas negras e indígenas para a construção de saberes decoloniais, falamos muito sobre o papel das artistas da cena.

Ouve-se muito autores, atores dizerem que estão dando voz a determinada personagem. Nos encontros do Núcleo aprendemos, ou aprendi, que nós atores, atrizes, autores e artistas da cena em geral não damos voz a ninguém. Exatamente, não damos vozes porque dar voz pressupõe que a outra pessoa a qual fazemos referência não possui voz.

As personagens (sejam históricas ou ficcionais) e as pessoas que se colocam no mundo têm voz. Porém, o racismo, o machismo e os mecanismos de opressão que são estruturais nas sociedades, fazem o trabalho de tentar silenciar essas vozes.

Então, reconhecemos que essas pessoas/personagens possuem voz própria e o nosso trabalho é de ressoar essas vozes, de gerar mais visibilidade ou mais resistência contra o silenciamento.

Meu trabalho de atriz tem essa premissa. Ressoar vozes para que elas não sejam silenciadas. A minha própria voz e a voz daquelas que de algum modo estão ligadas a mim, aos meus valores, a minha ancestralidade.

No mês de junho, decidi abrir meus estudos. Disponibilizar o meu momento de leitura e um pouco do meu processo de criação.

Para isso, fiz uma série de cinco encontros ao vivo pelo Instagram. Uma vez por semana, abri uma live e li contos e poesias de autoras negras. Comecei escolhendo contos do livro “Escritoras de cadernos negros”, que faz parte de uma coleção chamada “De mão em mão”, cujo objetivo é gerar mais visibilidade às escritoras negras. Este livro, reúne escritoras que publicaram trabalhos nos Cadernos Negros, uma publicação organizada pelo coletivo Quilombhoje. Este coletivo vem difundindo literatura afro-brasileira desde 1978. São mais de quarenta anos contribuindo para uma literatura antirracista. Histórias de pessoas negras contadas por pessoas negras.

Para acompanhar a série basta acessar o igtv do perfil @_manalice no Instagram.

Como foi realizada a curadoria?

Após ler os textos pela manhã, selecionava aqueles que tinha algum assunto ou tema em comum. Não impus os temas, percebi as similaridades existentes. O primeiro encontro foi sobre família; o segundo sobre afetos; o terceiro sobre a escrita, o ato de escrever; o quarto foi sobre cotidiano e por fim, na última edição da primeira temporada que contou com cinco lives, lemos sobre heranças.